30.12.11

A Ceia do Senhor


Acerca da ceia do Senhor, na epístola de Paulo aos santos de Corinto encontramos escrito: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que morrem. Mas, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados; quando, porém, somos julgados, somos corrigidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (1 Cor. 11:23-32).
Ora, dado que com a ceia do Senhor nós anunciamos o sacrifício expiatório feito por Jesus Cristo é necessário antes de tudo dizer quais são os benefícios que brotaram da oferta da carne e do sangue de Cristo.

O que fez Cristo por nós oferecendo a carne do seu corpo

Ÿ Jesus ofereceu a sua carne em sacrifício a Deus para nos vivificar (porque todos nós estavamos mortos nas nossas ofensas) na realidade um dia disse: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo" (João 6:51). E também para nos santificar, de facto está escrito que "fomos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre" (Heb. 10:10). Então se hoje nós estamos espiritualmente vivos e santos perante Deus o devemos ao corpo de Cristo.
Ÿ Jesus ofereceu o seu corpo em sacrifício pelos nossos pecados a fim de anular o domínio do pecado na nossa vida, de facto Paulo diz aos Romanos que Jesus "condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós" (Rom. 8:4). Assim nós, pela oferta do seu corpo, estamos mortos para o pecado, porque o pecado que tinha domínio sobre nós foi anulado na sua carne. Paulo explica este conceito aos santos de Roma nestes termos: "Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?" (Rom. 7:1). Nós sabemos que a lei tem domínio sobre o homem somente enquanto ele está vivo, porque uma vez morto, o homem não está mais sujeito a ela, e de facto como faz a lei para ter poder sobre uma pessoa morta que exalou a alma? De modo nenhum pode dominá-la. E assim também nós para não sermos mais escravos da lei deviamos morrer espiritualmente para a lei, e isso aconteceu pela fé na morte de Jesus. A crucificação do corpo de Jesus Cristo tem pois para nós um imenso valor porque nós tendo crido nele, fomos com ele crucificados; é por esta razão que a lei não tem mais domínio sobre nós, porque nós estamos mortos com Cristo, na realidade está escrito: "Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou dentre os mortos" (Rom. 7:4). Graças sejam portanto dadas a Deus que, pelo corpo de Cristo, nos fez morrer para a lei que nos escravizava; sim, estamos mortos com Cristo para o pecado que tinha domínio sobre nós pela lei (que é a força do pecado), para nos tornarmos propriedade particular de Cristo e para viver para ele.
Ÿ Jesus pelo seu corpo traspassado nos reconciliou com Deus de facto Paulo escreveu aos santos de Colossos: "A vós também, que noutro tempo ereis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte.." (Col. 1:21,22). Então irmãos, nós que noutro tempo éramos inimigos de Deus porque éramos amantes do prazer do pecado e o amor pelo mal o manifestávamos pensando coisas más e operando malvadamente, em virtude do grande amor que Deus manifestou por nós enviando o seu Filho a este mundo para morrer sobre a cruz, fomos reconciliados com Deus justamente por meio do corpo de Jesus Cristo. Reconciliados pois com Deus por meio do corpo de Jesus temos paz no nosso coração e se cumpriram as palavras do profeta Isaías: "O castigo que nos traz a paz estava sobre ele" (Is. 53:5). Dilectos, considerai isto; éramos nós que deveriamos ser castigados por todas as nossas iniquidades, nós deveriamos receber a condigna pena das nossas transgressões, mas Jesus que mal fez para ser morto no madeiro da cruz? Nenhum, de facto está escrito: "Ele andou fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo" (Actos 10:38), no entanto lhe foi dado mal pelo bem, e ódio pelo seu amor, mas tudo isto tinha sido antes determinado por Deus, ter que acontecer para que nós fossemos reconciliados com Ele e nos tornássemos seus amigos. A Ele seja a glória agora e pela eternidade. Amen.

O que fez Cristo por nós derramando o seu sangue

Ÿ Jesus com o seu sangue remiu os nossos pecados. Ele na realidade na noite em que foi traído, tomou o cálice e depois de ter dado graças, o deu aos seus discípulos dizendo: "Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mat. 26:28). Como podeis ver o sangue de Jesus é o sangue do novo pacto pelo qual nós obtivemos a remissão dos nossos pecados. O princípio de que a expiação dos nossos pecados se obtém pelo sangue está expresso na lei quando vem dito: "A vida da carne está no sangue. Por isto vos ordenei de pô-lo sobre o altar para fazer a expiação pelas vossas pessoas; porque é o sangue que fará expiação pela vida... a vida de toda a carne é o sangue; no seu sangue está a vida; por isso tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma espécie de carne.." (Lev. 17:11,14). Então segundo a lei, o sangue devia servir para fazer a expiação dos pecados, por esta razão Deus proibiu de comê-lo. O sangue era posto sobre as pontas do altar de perfumes e era derramado na base do altar do holocausto que estava à entrada da tenda, isto era o que acontecia quando estava toda a congregação de Israel a pecar por errar, de facto Deus disse: "Mas, se toda a congregação de Israel errar, e o negócio for oculto aos olhos de congregação, e se fizerem, contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e forem culpados; e o pecado em que pecarem for notório, então a congregação oferecerá um novilho, por expiação do pecado, e o trará diante da tenda da congregação. E os anciãos da congregação porão as suas mãos sobre a cabeça do novilho perante o Senhor; e degolar-se-á o novilho perante o Senhor. Então o sacerdote ungido trará do sangue do novilho à tenda da congregação. E o sacerdote molhará o seu dedo naquele sangue, e o espargirá sete vezes perante o Senhor, diante do véu. E daquele sangue porá sobre as pontas do altar, que está perante a face do Senhor, na tenda da congregação; e todo o resto do sangue derramará à base do altar do holocausto, que está diante da porta da tenda da congregação ... Assim  o sacerdote fará expiação por eles, e eles serão perdoados" (Lev. 4:13-18; 4:20). Porém o sangue daqueles animais que eram oferecidos como sacrifício pelo pecado não podia purificar a consciência dos que ofereciam aqueles sacrifícios expiatórios; porque "é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados" (Heb. 10:4). O sangue daqueles animais na realidade prefigurava o que Jesus Cristo derramaria na plenitude dos tempos para fazer a expiação dos nossos pecados, uma expiação perfeita porque cancelaria todos os pecados da consciência daqueles que a aceitariam por fé. A nossa consciência foi pois purgada das obras mortas pela vida (o sangue) do corpo da carne de Cristo. Era necessário pois que Jesus derramasse o seu sangue, porque sem o derramamento do seu sangue não teria podido ser concedida a remissão dos pecados. Agora que o sangue da aspersão foi derramado por Jesus, todos aqueles que crêem nele são purificados de todos os seus pecados pelo seu sangue.
Ÿ Jesus com o seu sangue nos resgatou da vã maneira de viver conforme está escrito: "Andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo..." (1 Ped. 1:17-19). Este resgate operado por Cristo tem um grande valor porque mediante ele a nossa vida cessou de ser uma existência vã, sem um sentido e sobretudo sem uma recompensa depois de mortos. De facto agora que estamos livres da  vaidade (do que é vão) que nos dominou por anos, vivemos pela causa do Evangelho que é a melhor causa pela qual um ser humano pode viver, porque todo o esforço feito em nome de Cristo para honra do Evangelho terá uma recompensa de Deus quando comparecermos diante dele naquele dia. Na lei temos diversos exemplos de resgates que prefiguravam o que Cristo realizaria. Um destes é o do pobre que se vende conforme está escrito: "E quando a mão do estrangeiro e peregrino que está contigo alcançar riqueza, e teu irmão, que está com ele, empobrecer, e se vender ao estrangeiro ou peregrino que está contigo, ou à raça da linhagem do estrangeiro, depois que se houver vendido, haverá resgate para ele; um de seus irmãos o resgatará: ou seu tio, ou o filho de seu tio o resgatará; ou um dos seus parentes, da sua família, o resgatará; ou, se a sua mão alcançar riqueza, se resgatará a si mesmo" (Lev. 25:47-49). Nós também tinhamos sido vendidos como escravos à vã maneira de viver e dela fomos resgatados; mas não com dinheiro, mas com o precioso sangue de Cristo, e se cumpriu a palavra que disse o profeta Isaías: "Sem dinheiro sereis resgatados" (Is. 52:3). O sangue que Jesus derramou foi pois o preço do resgate que Ele teve que pagar para nos conduzir à liberdade; era pois necessário que o Filho de Deus tomasse a nossa natureza humana, participando do sangue e da carne.
Ÿ Nós pelo sangue de Cristo fomos comprados para Deus de facto João, quando foi arrebatado em espírito, viu as quatro criaturas viventes e os vinte e quatro anciãos prostrarem-se diante do Cordeiro e os ouviu cantar este cântico: "Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra" (Ap. 5:9,10). Que fomos comprados por Cristo com o seu sangue é confirmado também por Paulo quando diz: "Fostes comprados por bom preço..." (1 Cor. 6:20). Mas então, antes de ser comprados por Cristo, estávamos nas mãos de quem? Irmãos, nós todos estávamos nas mãos do inimigo antes de nos tornarmos a propriedade particular de Deus. Nos salmos de facto está escrito: "Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre. Digam-no os remidos do Senhor, os que remiu da mão do inimigo..." (Sal. 107:1,2). Como podeis ver estas palavras confirmam que o inimigo nos tinha presos na sua mão (e pela sua mão nós éramos manipulados para fazer o mal a nós mesmos e aos outros) mas também que Jesus Cristo, o nosso grande Deus, nos libertou da sua mão. Jesus nos dias da sua carne estava consciente que com o seu sangue resgataria os eleitos da mão do inimigo na realidade contou esta parábola para mostrar como ele veio para libertar os que estão debaixo do poder de Satanás. Ele disse: "Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; mas sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos" (Lucas 11:21,22). Jesus Cristo pois, para nos libertar do poder de Satanás teve que enfrentar um combate contra o príncipe deste mundo, e deste combate saiu vitorioso. Jesus Cristo venceu o maligno morrendo na cruz pelos nossos pecados e derramando o seu próprio sangue por nós; Paulo de facto diz a tal propósito: "E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou por meio da cruz" (Col. 2:15). O Filho de Deus, pela sua morte, destruiu aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e ainda pela sua morte nos libertou do temor da morte a causa pela qual nós todos vivíamos no medo. Graças sejam dadas a Deus, em Cristo Jesus, porque não temos mais medo de morrer; nós, agora, temos o desejo de partir deste corpo e ir habitar com o Senhor, a morte não nos mete mais medo porque Cristo a destruiu. O diabo, pela morte, faz viver no medo os que estão debaixo do seu poder, enquanto Jesus, os por Ele resgatados do poder de Satanás, os faz viver em paz e em segurança, porque Ele destruiu a morte e o diabo. Jesus obteve esta vitória sobre o diabo dando a sua vida por todos nós, e nós, em Cristo Jesus, vencemos o maligno. Nós pois não vencemos o adversário com as nossas forças ou por algum mérito pessoal, mas por causa do sangue do Cordeiro; a nossa vitória sobre o diabo é o fruto do tormento da alma de Cristo e não o fruto de alguma boa obra por nós feita.

O significado que tem a ceia do Senhor

Depois de ter dito o que Cristo fez por nós pela oferta do corpo da sua carne e pelo seu sangue, quero falar do significado que tem a ceia do Senhor. Para falar dele devo porém antes de tudo fazer uma referência à Páscoa porque a santa ceia foi instituida por Jesus na noite em que comeu a Páscoa com os seus discípulos e na qual foi traído e porque a santa ceia tira o seu significado justamente da Páscoa.
A Páscoa (a festa dos Judeus) foi instituída por Deus quando os Israelitas ainda estavam no Egipto; vejamos agora em que circunstância e qual era o seu significado. Os Israelitas habitaram no Egipto como Deus tinha dito a Abraão, e os Egípcios os sujeitaram a uma dura servidão; depois Deus ouviu os seus gemidos e se recordou do seu pacto com Abraão, com Isaque e com Jacó e enviou-lhes Moisés como cabeça e como libertador para tirá-los do Egipto. Deus enviou contra Faraó e contra os Egípcios que tinham maltratado o seu povo, grandes juízos; o juízo de Deus que obrigou Faraó a deixar ir Israel foi o extermínio dos primogénitos. Faraó tinha endurecido o seu coração, recusando-se a deixar ir Israel; Deus, isto o viu e disse a Moisés: "Ainda uma praga trarei sobre Faraó e sobre o Egipto; depois vos deixará ir daqui... À meia-noite eu sairei pelo meio do Egipto; e todo o primogénito na terra do Egipto morrerá, desde o primogénito de Faraó, que se assenta com ele sobre o seu trono, até o primogénito da serva que está detrás da mó, e todo o primogénito dos animais" (Ex. 11:1,4,5). Deus disse pois a Moisés que naquela noite (o décimo quarto dia do mês de Abibe), ele feriria todo o primogénito dos Egípcios e faria sair os seus exércitos da terra do Egipto, mas Ele também disse a Moisés o que eles deveriam fazer naquela noite para que o destruidor não entrasse nas suas casas para atingi-los. Deus de facto disse a Moisés e a Arão para falarem a toda a congregação e dizerem-lhes para tomar, no décimo dia daquele mês, um cordeiro por família; ele devia ser sem defeito, macho de um ano, e devia ser por eles imolado e comido no décimo quarto dia daquele mesmo mês. Eis o que Deus mandou a tal propósito: "E o guardareis até o décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o sacrificará à tarde. E tomarão do sangue e po-lo-ão em ambas as umbreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem. E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães asmos; com ervas amargosas a comerão" (Ex. 12:6-8). O sangue do cordeiro pascal posto nas umbreiras e na verga das portas serviria de sinal aos Israelitas, porque o destruidor, quando passasse pelo Egipto, quando visse aquele sangue passaria além e não os destruiria; a carne do cordeiro ao invés devia ser assada e comida com pão sem fermento (asmo) e com ervas amargas, com os lombos cingidos, os sapatos nos pés e com o cajado na mão, apressadamente, porque naquela noite os Israelitas deveriam ir embora do Egipto e eles deveriam estar prontos para a partida. Os Israelitas fizeram como Deus tinha ordenado a Moisés e a Arão e naquela noite comeram a Páscoa e Deus os tirou do Egipto depois de uma escravatura secular; Deus, falando daquele dia, disse: "E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo... Guardai, pois, a festa dos pães asmos, porque naquele mesmo dia tirei os vossos exércitos da terra do Egipto" (Ex. 12:14,17). E de facto, para os Judeus a Páscoa é ainda um dia de memória que eles celebram todos os anos, na qual eles recordam a sua saída da terra do Egipto e também o facto de o Senhor ter passado além das suas casas quando feriu os Egípcios.
Se Jesus portanto instituiu a santa ceia justamente quando comeu a Páscoa com os seus discípulos isso significa que ele com a santa ceia quis que nós discípulos nos recordássemos do seu sacrifício expiatório feito para nos proporcionar uma libertação superior àquela operada por Deus para com os Israelitas, de facto com ele Jesus nos libertou do pecado, a nós que éramos escravos dele. Enquanto pois os Hebreus pela Páscoa recordavam e recordam o seu êxodo do Egipto, nós pela santa ceia recordamos a morte de Jesus pela qual saímos deste mundo mau para ser um reino de sacerdotes de Deus e de Cristo. E agora que somos sacerdotes de Deus e de Cristo estamos em segurança; como os Israelitas se sentiam em segurança dentro das suas casas aspergidas de sangue, assim nós nos sentimos em segurança tendo em vista o dia da ira de Deus, quando Deus derramará a sua ardente indignação sobre o mundo dos ímpios, porque estamos aspergidos com o sangue de Jesus e sabemos que aqueles sobre os quais Deus vir o sangue do Cordeiro que foi imolado, serão libertados da sua ira, conforme está escrito: "Agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rom. 5:9). Eis porque Paulo diz aos Coríntios: "Porque Cristo, a nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Cor. 5:7), porque Cristo é o Cordeiro pascal bem ordenado antes da fundação do mundo mas oferecido pelos nossos pecados no fim dos séculos, a fim de nos libertar pelo seu sangue do pecado e da ira vindoura. A Ele seja a glória agora e eternamente. Amen.
Jesus, na noite em que foi traído, enquanto comia a Páscoa com os seus discípulos, tomou o pão, deu graças, o partiu e o deu-lhes dizendo: "Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim" (Lucas 22:19), e depois de ter ceado tomou também o cálice, deu graças e lhes o deu dizendo: "Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue... fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim" (Mat. 26:28; 1 Cor. 11: 25). Das palavras de Jesus aqui supracitadas e das do apóstolo Paulo aos Coríntios (acerca da ceia do Senhor) emerge claramente isto, a saber, que nós quando comemos o pão e bebemos do cálice do Senhor, anunciamos a morte de Cristo até que ele venha, em outras palavras recordamos a morte de Jesus Cristo acontecida séculos atrás; para nós o dia em que comemos o pão e bebemos do cálice do Senhor é um dia de memória que estamos contentes de celebrar para a glória de Deus. Não um dia em que se repete o sacrifício de Cristo, como a igreja católica romana diz falsamente aos seus fiéis, porque Jesus ofereceu-se a si mesmo uma vez para sempre (cfr. Heb. 10:10) e o seu sacrifício não é repetível sob nenhuma forma e semelhança. Naturalmente ao recordar este trágico evento que é a morte de Cristo, nós temos comunhão com o corpo e o sangue de Jesus que são representados pelo pão e pelo vinho de facto Paulo diz: "Porventura o cálice da benção, que abençoamos, não é comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão" (1 Cor. 10:16,17). Porque é que nós temos esta comunhão? Porque fomos santificados em virtude da oferta do corpo de Cristo e fomos aspergidos com o sangue de Jesus e por isso somos um só espírito com ele conforme está escrito: "O que se une ao Senhor é um só espírito com ele" (1 Cor. 6:17). É evidente pois que quem ainda não se uniu ao Senhor tornando-se assim um só espírito com ele, não sendo ainda um membro do corpo de Cristo, não pode ter comunhão com o corpo de Cristo que é representado pelo pão que nós partimos e com o seu sangue representado pelo vinho.

Nenhum estrangeiro comerá dela

Na mesa do Senhor não devem participar aqueles que ainda não nasceram de Deus, porque eles são estrangeiros e incircuncisos de coração. Para demonstrar-vos como eles não têm o direito de comer do pão e de beber do cálice do Senhor vos recordo o que Deus disse a Moisés e a Arão acerca da Páscoa: "Esta é a ordenança da páscoa; nenhum, estrangeiro comerá dela... Quando, porém, algum estrangeiro peregrinar entre vós e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, circuncidem-se todos os seus varões; então se chegará e a celebrará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela" (Ex. 12:43,48). Notai estas palavras: "Nenhum incircunciso comerá dela"; neste caso era a circuncisão na carne que era exigida ao estrangeiro que queria comer a Páscoa. Portanto, como debaixo da lei o incircunciso na carne não tinha o direito de comer a Páscoa, assim debaixo da graça, aqueles que são incircuncisos de coração não têm o direito de comer a ceia do Senhor. Como o estrangeiro antes de comer a Páscoa devia ser circuncidado na carne, assim agora o incircunciso de coração deve circuncidar o seu coração (arrependendo-se dos seus pecados e crendo em Jesus Cristo) e depois batizar-se para ter o direito de comer a ceia do Senhor.

Examinemo-nos a nós mesmos

Vejamos agora as palavras de Paulo: "De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor" (1 Cor. 11:27). Quero fazer-vos notar que Paulo mais adiante diz: "Quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor" (1 Cor. 11:29), e isto o diz para explicar que os que participam na ceia do Senhor sem discernir o corpo do Senhor, participam indignamente e por isso são julgados pelo Senhor.
Nós filhos de Deus, lavados com o sangue de Jesus Cristo, temos o direito de comer o pão e beber do cálice do Senhor em virtude da graça de Deus, não em virtude de algum nosso mérito pessoal, mas exclusivamente pela graça do Senhor Jesus, isto o reconhecemos e o dizemos: mas se um filho de Deus não se conduz de modo digno do Evangelho de Cristo e come o pão e bebe do cálice do Senhor, come e bebe indignamente e se faz culpado do corpo e do sangue do Senhor, atraindo o inevitável juízo de Deus sobre a sua cabeça. Em Corinto haviam crentes que desprezavam a Igreja de Deus e na refeição comum envergonhavam os que não tinham nada, de facto Paulo escreveu aos santos de Corinto: "Quando pois vos ajuntais num lugar, aquilo que fazeis, não é comer a Ceia do Senhor; porque, na refeição comum, cada um toma antes a própria ceia; e enquanto um tem fome, o outro está bêbado" (1 Cor. 11:20,21); isto é o que sucedia no seio daqueles irmãos. Os crentes da igreja de Corinto se reuniam não pelo melhor mas pelo pior, antes de tudo porque quando se congregavam em assembleia haviam divisões entre eles, e depois porque na refeição comum cada um antes comia a própria ceia e enquanto um tinha fome o outro estava bêbado. O que de errado os Coríntios faziam era que se embriagavam e se aproximavam da ceia do Senhor naquele estado fazendo-se culpados do corpo e do sangue do Senhor porque, dado que perdiam o discernimento, não eram mais capazes de discernir o corpo do Senhor. E Deus puniu os que não discerniam o corpo do Senhor de facto no seio da igreja de Corinto muitos eram doentes e muitos morriam justamente por esta razão, isto é, porque comiam a Ceia do Senhor indignamente. E não é que as coisas estejam mudadas porque o Senhor ainda exercita os seus juízos contra os que comem a Ceia do Senhor indignamente. Portanto irmãos, sabendo que "o Juiz está à porta" (Tiago 5:9), cuidemos de nós mesmos para não sermos julgados pelo Senhor. Debaixo da lei, a respeito da Páscoa, havia uma norma que nos mostra como para comer a Páscoa era necessário estar puro. Deus deu esta norma numa específica circunstância, isto é, no caso de alguns que se tinham contaminado pelo contacto com um morto não podiam celebrar a Páscoa no tempo estabelecido. Ele disse que aqueles homens podiam celebrar a Páscoa mas só um mês depois (cfr. Num. 9:1-11) para lhes permitir primeiro purificar-se. Quem se contaminava com um morto de facto permanecia impuro sete dias e devia purificar-se no terceiro e no sétimo dia com a água da purificação para ser considerado de novo puro (neste caso a pureza que dava a água da purificação era a pureza da carne). Nós, pois debaixo da graça,  antes de comer o pão e de beber do cálice do Senhor faremos bem em nos examinarmos a nós mesmos e confessar a Deus as nossas transgressões a fim de ser purificados de toda a iniquidade com o sangue de Jesus. Por isso irmãos, "purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito" (2 Cor. 7:1) antes de comer o pão e de beber do cálice do Senhor, para não sermos punidos por Deus.

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