Alguém dirá: Mas não está porventura escrito que se nasce de novo da água? Sim, mas ela não é a água do batismo, mas a Palavra de Deus que na Escritura é simbolizada pela água conforme está escrito aos Efésios: "Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra" (Ef. 5:25,26), e também em Isaías: "Assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não torna, mas rega a terra, e a faz produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes, fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" (Is. 55:10-11). Notai com quanta clareza a Palavra de Deus é comparada à água que desce do céu para regar a terra e fazê-la brotar. Ora, João disse que "aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus" (João. 3:34), e de facto, Jesus, enviado por Deus, desceu do céu e anunciou-nos o que ele ouvira de seu Pai, isto é, a Boa Nova do Reino de Deus. E nós que estavamos mortos nas nossas ofensas, fomos regenerados exactamente pela Palavra da Boa Nova nos anunciada por Cristo, conforme está escrito: "Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre... E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada" (1 Ped. 1:23,25) e também: "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra de verdade" (Tiago. 1:18). A palavra de Deus nos anunciada por Cristo é portanto o poder regenerador. Eis porque Jesus um dia disse: "As palavras que eu vos disse são espírito e vida" (João. 6:63). E porventura não é verdade que o evangelho da Graça de Deus nos vivificou comunicando-nos aquela vida da qual nós estavamos em tempos privados? Sim, é esta a verdade; nós nascemos de novo pela Palavra de Deus. Mas como disse Jesus, é preciso também nascer do Espírito de Deus. Vamos pois falar também daquilo que fez o Espírito de Deus para nos fazer renascer. Quando nós ouvimos a Palavra da Graça, o Espírito nos convenceu quanto ao pecado, à justiça, e ao juízo e de facto o Espírito Santo foi enviado do céu também para fazer esta obra de convencimento conforme o que disse Jesus antes de ser glorificado: "E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado" (João 16:8-11). Irmãos, foi o Espírito Santo que nos convenceu de ser pecadores e incrédulos; nós, antes de nascer de novo considerávamos (apoiados no nosso falso discernimento) não ser pecadores que mereciam ir para o fogo eterno, porque também nós eramos escravos do pecado; nós não falavamos como deviamos porque éramos também nós filhos da rebelião; havia quem dizia: “Mas que mal fiz para merecer o juízo de Deus?’, quem: ‘não mato, não roubo, não blasfemo, do que tenho que me arrepender se não tenho pecados?’, enquanto a Palavra de Deus dizia e diz ainda: "Tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos" (Rom. 3:9-18; Sal. 14:1-3; 5:9; 140:3; 10:7; Is. 59:7,8; Sal. 36:1). Mas Deus foi paciente conosco e esperou que nós reconhecessemos diante d`Ele ser pecadores, que nos arrependessemos e que o invocássemos para que Ele tivesse piedade de nós. Quantos de nós antes de crer no Senhor diziam crer? Muitos; mas não eramos crentes mas incrédulos, porque não tinhamos ainda crido com o nosso coração no Evangelho. Com efeito nós, quando diziamos: “Eu creio”, queriamos dizer: “Também eu ouvi falar dele”; para nós ter ouvido falar do evangelho e crer no evangelho era a mesma coisa, enquanto há uma grande diferença entre ter somente ouvido falar de Cristo (sem crer nele), e ter ouvido falar dele e ter crido nele com todo o coração; no primeiro caso está-se ainda perdido, no segundo está-se salvo com a certeza de ter a vida eterna. Nós todos, antes de nascer de novo eramos rebeldes e malvados, mas graças damos a Deus que pelo seu Espírito, primeiro nos convenceu quanto ao pecado, depois nos vivificou; "O Espirito é vida" (Rom. 8:10) e Ele nos vivificou conforme está escrito: "O Espírito é o que vivifica" (João. 6:63). Muitos sustentam que todos os homens são filhos de Deus, o que equivale a dizer que todos os homens são nascidos de Deus, mas esta afirmação é falsa porque a Escritura ensina que só aqueles que estão no caminho da salvação são filhos de Deus; todos os homens foram criados por Deus mas nem todos os homens foram regenerados por Deus. Jesus disse: "Larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem" (Mat. 7:13,14); Nós sabemos que a porta é Cristo, porque Jesus disse: "Eu sou a porta; se alguém entrar por mim salvar-se-á" (João. 10:9), e que o caminho que leva à vida é também Jesus Cristo, porque ele disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (João 14:6), mas sabemos também que são poucos os que encontram o caminho que leva à vida e que o seguem, o que significa que o número daqueles que são nascidos de Deus e que estão sobre o caminho da salvação é pequeno comparado ao número dos incrédulos que caminham sobre o caminho da perdição. A Escritura ensina que só os que receberam Cristo Jesus são filhos de Deus, de facto está escrito: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1:12,13), e ainda: "Todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus" (Gal. 3:26). É crendo em Jesus Cristo que o homem se torna filho de Deus por isso os incrédulos não são filhos de Deus mas filhos do diabo porque não crêem no nome do filho de Deus e para confirmar-vos isto recordo-vos o que Jesus disse àqueles judeus que não criam nele e que queriam matá-lo; ele disse-lhes: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (João. 8:44). O apóstolo Paulo, em Chipre, chamou àquele falso profeta judeu de nome Bar-Jesus (que procurava desviar o procônsul da fé) ‘filho do diabo’. Nós sabemos que os falsos profetas são filhos do diabo porque não crêem no Filho de Deus e procuram desviar da fé os que creram no Senhor. Jesus, quando explicou a parábola do joio do campo, disse aos seus discípulos: " O que semeia a boa semente é o filho do homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino e o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou, é o diabo" (Mat 13:37-39); das palavras do Senhor se entende claramente que neste mundo há os filhos de Deus e os filhos do diabo, por isso não podemos dizer que todos os homens são filhos de Deus.
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O novo nascimento é uma experiência real que se está perfeitamente consciente de experimentar quando ela acontece e se está perfeitamente seguro de tê-la vivido depois que a se experimentou; e isto apesar de nós não conseguirmos explicar como ele pôde fazer-se na nossa vida porque é uma obra inescrutável operada por Deus pela sua Palavra e o seu Santo Espírito. Podemos compará-lo à saída de um morto da sepultura onde tinha sido sepultado; à saída de um prisioneiro de uma prisão, à saída para a luz do sol de uma pessoa fechada anos em um quarto escuro; a recuperação da vista por um cego de nascença, a um ser libertado de fortes e pesadas correntes; em suma queremos dizer que quem o experimentou sabe o que provou quando nasceu de novo porque é uma experiência que marca a sua existência de maneira radical. O que se experimenta quando se nasce de novo é a salvação, o perdão de todos os velhos pecados. O desaparecimento portanto daquele sentido de culpa que aflige o homem sem Deus. Por isso quem nasce de novo está seguro de ter no instante sido salvo, de ter sido purificado de todos os seus pecados e de não ter mais a consciência que o acusa. E isto logo produz nele um grande gozo, um gozo profundo que jorra de Cristo que vem morar no seu coração; e juntamente com o gozo uma paz profunda, verdadeira, que vem ainda de Cristo. Ele torna-se assim um Filho de Deus; como? Já o vimos; pelo arrependimento e a fé em Cristo. Mas está seguro de ser um filho de Deus? Com certeza. Com que fundamento pode dizer ser um filho de Deus? Em virtude daquilo que diz a palavra de Deus; "Mas , a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João. 1:12), e ainda: "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus!" (1 João. 3:1); e em virtude do testemunho do Espírito Santo que veio morar no seu coração de facto está escrito: "Recebestes o Espírito de adopção de filhos, pelo qual clamamos: Aba! Pai! O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rom. 8:15-16). E portanto ele está seguro de ser um herdeiro de Deus e um co-herdeiro de Cristo; ele está seguro de ter a vida eterna porque tem no coração aquele que é a vida eterna; e por isso sabe que quando morrer irá habitar no céu com Cristo e com os outros santos à espera da ressurreição. Além disso, dizemos que todos os que crêem, sendo que nasceram de novo, são também sacerdotes de Deus; de facto Pedro depois de ter dito no início da sua primeira epístola: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos..." (1 Ped. 1:3-4), afirma: "Mas vós sois... o sacerdócio real.." (1 Ped. 2:9). Veis? Todos aqueles que foram gerados de novo, ou seja, que renasceram são sacerdotes de Deus. E portanto todos aqueles que creram no Filho de Deus são sacerdotes. E, ainda segundo a Escritura, todos aqueles que creram foram feitos também reis e reinarão com Cristo sobre a terra de facto João diz que Cristo "nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai" (Ap. 1:6), e que ouviu as criaturas viventes e os vinte e quatro anciãos afirmar: ".. E com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra" (Ap. 5:9-10).
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Ÿ Os que são nascidos de Deus amam Deus e a irmandade porque está escrito: "Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus" (1 João 4:7); os que amam por obra e em verdade os irmãos são nascidos de Deus e conhecem Deus porque Deus é amor, mas "quem não ama permanece na morte... e não conhece a Deus; porque Deus é amor " (1 João 3:14; 4:8), isso significa que os que nos odeiam, mesmo se dizem ser cristãos, não são nascidos de Deus. João diz: "Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos" (1 João 3:14). Nós, antes de conhecer Deus não amavamos os irmãos, eles não eram pessoas que nos agradavam, com as quais amavamos estar e falar, nós não gostavamos visitar e ajudar os irmãos, porque estavamos na morte; nós que estavamos mortos desejávamos estar e falar com aqueles que estavam mortos como nós, nós tinhamos orgulho de ser amigos e companheiros dos pecadores e amavamos o seu perverso modo de viver e de falar, mas graças sejam dadas a Deus que nos fez renascer; no dia que nascemos de novo a nossa mente foi renovada pelo Espírito Santo e nós começamos a amar os santos, pelo amor de Deus derramado nos nossos corações pelo Espírito. Mas então, porque é que também nesta nação, muitos dizem ser cristãos e nos odeiam, nos desprezam, nos olham mal, não gostam de estar conosco, nem falar conosco e nos definem uma “seita” como se fossemos os seguidores de um qualquer impostor? A razão é que estes estão nas trevas mesmo se dizem estar na luz; eles são do mundo e nos odeiam porque nós não somos do mundo, de facto Jesus disse: "Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” (João 15:19). Irmãos, Cristo nos resgatou do presente século mau, por esta razão os que são deste mundo de trevas nos odeiam; eles dizem ser cristãos como nós e dizem ter o mesmo Pai nosso, mas não são de Deus mas do diabo.
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Ÿ Os que são nascidos de Deus estão seguros de ter sido perdoados de todos os seus pecados e de terem a vida eterna, porque creram no Filho de Deus; está escrito: “Porque nele nós temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça..." (Ef. 1:7), por isso nós que somos de Deus fomos purificados dos nossos pecados porque eles nos foram perdoados pela fé em Cristo. Todos os que dizem que quando morrerem irão para o purgatório para serem purgados dos seus pecados não são nascidos de Deus e não são dos nossos porque a Escritura diz: "Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 João 1:7); o purgatório não existe e os que crêem na sua existência enganam-se a si mesmos. Os que dizem que vão confessar os seus pecados aos padres e que fazendo assim os seus pecados lhes são perdoados não são nascidos de Deus e enganam-se a si mesmos, porque o padre não tem o poder de perdoar a um homem os pecados que ele cometeu contra Deus. A Escritura ensina que só Deus pode perdoar os pecados ao pecador, conforme está escrito: "Ele é o que te perdoa todas as tuas iniquidades" (Sal. 103:3). Os que vão confessar-se aos padres não são de modo nenhum purificados dos seus pecados, de facto continuam a ter consciência de pecado, porque a confissão dos pecados, o pecador a deve fazer a Deus para ser perdoado e para renascer, conforme está escrito: "Disse eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado" (Sal. 32:5). Nós que somos nascidos de Deus temos a vida eterna porque cremos no Filho de Deus; Jesus disse: "Aquele que crê em mim tem a vida eterna" (João. 6:47) e João nos escreveu: "Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna (1 João. 5:13). Se alguém diz ser um Cristão, mas diz de não ter a vida eterna não é nascido de Deus; muitos nos consideram presunçosos porque dizemos de ter a vida eterna mas o que dizemos é a verdade, porque está escrito: "Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho" (1 João 5:11). Os que dizem ser Cristãos mas ao mesmo tempo dizem que não têm a vida eterna porque estão ainda fazendo do seu melhor para ganhá-la não são nascidos de Deus; a vida eterna não pode ser ganha fazendo boas obras porque ela não está à venda; a vida eterna não é a recompensa que Deus dá ao pecador que se esforça para a conseguir ganhar, mas o seu dom que Ele dá gratuitamente a todos os que se arrependem e crêem em Jesus Cristo, conforme está escrito: "O dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom. 6:23).
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